Beatriz Gil
Nasci com um nome complicado de se dizer, por isso aprendi a lidar com toda uma parafernália de alcunhas para simplificar a coisa. Beatriz Gil, daqueles nomes estranhos que nenhuma criança pode, na sua inocência e pequenez, pronunciar em termos. Foi num dia de Outono, não sei se chovia, mas certamente fazia algum frio, 15 de Novembro do final da década de 80, a época em que a arte se passou dos carretos e desataram a aparecer os sintetizadores, a pop explodiu nas TV’s, a pintura conheceu caminhos nunca antes palmilhados e a arquitetura deixou muito a desejar. Dizem que aprendi a falar cedo e sempre fui daquelas crianças que gostava de ir ao parque, não para desatar em correrias à volta dos escorregas e baloiços, mas para me deixar ficar a ver os velhinhos sentados, provavelmente a admirar-lhes a idade, as coisas que a vida tece e que eu não tinha coração suficiente para perceber. Aos 15 anos decidi que queria viver sozinha. Muito mais do que isso, queria sair de Lisboa e rumei ao norte, à cidade invicta de que pouco ou nada conhecia e que se deixou ficar até hoje encostada a um lado muito especial do meu coração. Comecei por tirar o curso de Design de Moda, para depois me revoltar com aquilo tudo e mandar os tecidos à vida. Julguei novamente decidir-me e embrenhei-me nos caminhos da Animação Sociocultural. Mudei muitas vezes de casa, cometi muitos erros, bati forte e feio com a cabeça outras tantas e apaixonei-me muito, de todas as formas de que é possível uma pessoa apaixonar-se.